Frente à crescente demanda por redução de despesas, os responsáveis pela área econômica do Brasil estão considerando a possibilidade de fazer alterações nos benefícios temporários oferecidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O auxílio-doença, o auxílio-reclusão (destinado a dependentes de detentos em regime fechado) e o auxílio por acidentes de trabalho estão entre os benefícios que estão sendo revisados.
Separando os Benefícios Temporários do Salário Mínimo do INSS
Uma das principais propostas em análise é separar esses auxílios temporários dos ajustes automáticos ligados ao salário mínimo nacional. Atualmente, o salário mínimo é atualizado anualmente com base no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e na inflação, o que tem impacto nas despesas previdenciárias.
Os defensores dessa medida argumentam que, em meio a restrições fiscais, não é lógico garantir a todos os trabalhadores o mesmo aumento de produtividade concedido pelo salário mínimo. Enquanto aposentados e trabalhadores ativos continuariam a receber os aumentos do salário mínimo, os beneficiários de benefícios temporários, como o auxílio-doença, teriam regras de reajuste diferentes.
Evitando Confrontos Judiciais
As autoridades reconhecem os potenciais desafios políticos e legais associados a uma desvinculação completa das aposentadorias permanentes do INSS do salário mínimo, considerando a possibilidade de tal medida ser contestada no Supremo Tribunal Federal (STF) com base em cláusulas pétreas da Constituição.
Por esse motivo, a alternativa de desvincular apenas os benefícios temporários são vistas como mais aceitável e com maiores chances de aprovação no Congresso Nacional. Estima-se que aproximadamente 70% dos benefícios do INSS estejam ligados ao salário mínimo nacional.
Buscando economias e flexibilidade orçamentária para os benefícios do INSS
De acordo com fontes do governo envolvidas nas conversas, a desvinculação dos benefícios temporários não implica necessariamente em perda real para os beneficiários. No entanto, a forma de reajuste seria distinta da aplicada às aposentadorias e ao salário mínimo.
Ao modificar as regras apenas para esses benefícios específicos, o governo busca alcançar economias consideráveis e maior flexibilidade no Orçamento da União. Essa medida está inserida em um conjunto mais amplo de cortes de gastos, que também contempla a revisão dos pisos mínimos de investimento em Educação e Saúde.
A programação e etapas futuras do projeto que possibilita modificar os benefícios do INSS
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que apresentará as sugestões ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante as discussões do Orçamento de 2025, cuja proposta deve ser submetida ao Congresso Nacional até o final de agosto deste ano.
Haddad destacou que vários cenários serão colocados diante do presidente, e caberá a ele avaliar e decidir quais medidas serão adotadas. O ministro enfatizou que ainda não há uma decisão definitiva, e que o chefe do Executivo “pode aceitar ou não” as recomendações sugeridas pela equipe econômica.
Impacto nos Pisos de Saúde e Educação
Uma das áreas de foco é a análise dos pisos constitucionais de despesas em Saúde e Educação, os quais estão atrelados a percentuais da receita arrecadada. Como esses pisos crescem em conjunto com a arrecadação, excedendo o limite de gastos estabelecido no novo arcabouço fiscal, o governo teria que reduzir recursos de outras áreas para cumprir esses requisitos.
Uma possível solução em consideração é ajustar o crescimento desses pisos para se alinhar com a faixa de aumento real permitida pelo arcabouço fiscal, variando entre 0,6% e 2,5% ao ano. Haddad rejeitou a noção de que essa medida poderia resultar em perdas de investimento nessas áreas, assegurando que “ninguém tem prejuízo”.
Desafios Políticos e Jurídicos com esta alteração do INSS
Apesar da justificativa de necessidade para equilíbrio das finanças públicas, as propostas enfrentarão consideráveis desafios tanto políticos quanto jurídicos. Qualquer esforço para modificar as normas previdenciárias provavelmente enfrentarão resistência de diversos setores da sociedade e do Congresso Nacional.
Adicionalmente, a ameaça de contestações judiciais acerca da constitucionalidade das alterações é uma preocupação constante. O governo precisará agir com cautela, buscando soluções legalmente sólidas e politicamente viáveis.
Ademais, as discussões relacionadas ao auxílio-doença do INSS e outras reformas sugeridas pelo governo federal evidenciam os desafios fiscais que o Brasil enfrenta. Enquanto as autoridades procuram soluções para equilibrar as finanças públicas, é crucial encontrar um ponto de equilíbrio entre a necessidade de reduzir gastos e a preservação dos direitos e benefícios fundamentais para a população.