O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) está realizando uma ampla revisão nos benefícios concedidos, com o objetivo de identificar fraudes, inconsistências e erros nos pagamentos. Essa ação, conhecida como “pente-fino”, pode resultar na suspensão de até 800 mil benefícios, gerando uma economia estimada em R$ 3 bilhões até o final de 2024.
Foco Principal do INSS: Auxílio-Doença e Benefício de Prestação Continuada (BPC)
Embora qualquer benefício ofertado pelo INSS esteja sujeito à revisão, o foco principal recai sobre o auxílio-doença e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Esses dois programas são os que apresentam maior risco de irregularidades, segundo as avaliações iniciais da autarquia previdenciária.
Auxílio-Doença: Comprovação da Incapacidade é Essencial
O auxílio-doença é um benefício temporário concedido a segurados que se encontram temporariamente incapacitados para o trabalho devido a doenças ou acidentes. Durante o pente-fino, os beneficiários desse auxílio serão submetidos a perícias médicas rigorosas para comprovar a continuidade de sua incapacidade.
Aqueles que não conseguirem comprovar, por meio de laudos e exames médicos, que permanecem inaptos para retornar ao trabalho terão seus benefícios suspensos. Essa medida visa evitar o pagamento indevido de auxílios a indivíduos que já se recuperaram e estão aptos a exercer suas atividades profissionais.
Perícia Médica: Chave para Manter o Benefício
Para manter o recebimento do auxílio-doença, é crucial que os beneficiários compareçam às perícias médicas agendadas pelo INSS. Essas avaliações periódicas são fundamentais para verificar se a condição de incapacidade ainda persiste.
Caso o beneficiário não se submeta à perícia ou não apresente documentação médica suficiente para comprovar sua incapacidade, corre o risco de ter seu benefício suspenso imediatamente.
Benefício de Prestação Continuada (BPC): Foco na Renda Familiar
O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um auxílio destinado a idosos acima de 65 anos e pessoas com deficiência de baixa renda. Durante o pente-fino, o INSS irá revisar rigorosamente a situação financeira dos beneficiários desse programa.
Critério de Renda: 1/4 do Salário Mínimo por Pessoa
Para ter direito ao BPC, a renda mensal familiar per capita não pode ultrapassar 1/4 do salário mínimo vigente. Caso seja constatado que a renda familiar excede esse limite, o benefício será suspenso.
O INSS realizará cruzamentos de dados com outras bases governamentais, como o Cadastro Único (CadÚnico), para verificar a veracidade das informações fornecidas pelos beneficiários. Qualquer discrepância ou omissão de dados poderá resultar na perda do benefício.
Aposentados por Invalidez: Retorno ao Trabalho é Motivo para Suspensão
Outro grupo que estará sob o olhar atento do pente-fino são os aposentados por invalidez. Esses beneficiários recebem uma aposentadoria especial devido à incapacidade permanente para o trabalho.
No entanto, caso seja constatado que o beneficiário retornou às atividades profissionais, seu benefício será imediatamente suspenso. O INSS realizará cruzamentos de dados com a Receita Federal e o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) para identificar esses casos.
Objetivo Principal do Pente-Fino INSS
O principal objetivo do pente-fino é garantir a eficiência e a justiça no sistema previdenciário, evitando o desperdício de recursos públicos com pagamentos indevidos. Segundo estimativas do INSS, a revisão rigorosa pode gerar uma economia de até R$ 3 bilhões até o final de 2024.
Essa economia é fundamental para aliviar as contas públicas e garantir a sustentabilidade do sistema previdenciário no longo prazo. Além disso, os recursos economizados poderão ser redirecionados para outras áreas prioritárias do governo, como saúde, educação e infraestrutura.
Combate a Fraudes e Erros do INSS
Para conduzir o pente-fino de forma eficiente, o Ministério da Previdência Social montou uma força-tarefa especializada composta por 274 servidores. Essa equipe é responsável por apurar fraudes documentais e inconsistências no pagamento dos 14 auxílios oferecidos pela pasta, incluindo aposentadorias, pensões, auxílio-doença e BPC.
Até meados de maio, a força-tarefa já havia suspendido 30,9 mil benefícios previdenciários, gerando uma economia de R$ 459,3 milhões, e 26,7 mil benefícios assistenciais, poupando R$ 290,4 milhões, totalizando R$ 750,9 milhões.
Diante desses resultados promissores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que o esforço seja intensificado, dobrando o total de servidores alocados nessa tarefa. O Ministério da Previdência estima que a economia poderá chegar a R$ 3 bilhões até o final do ano.
Casos de Fraude: Acúmulo Indevido de Benefícios
Segundo o ministro Carlos Lupi, a força-tarefa tem identificado diversos casos de fraude e erros nos pagamentos de benefícios. Um dos exemplos citados são beneficiários que acumulam indevidamente dois ou mais benefícios, como duas pensões ou um benefício com o nome de solteiro e outro com nome de casado.
Esses casos configuram fraude e serão prontamente suspensos pelo INSS. A autarquia reforça que está empenhada em combater qualquer tipo de irregularidade e garantir a lisura no sistema previdenciário.
Atestmed: Redução de Custos e Agilidade na Concessão
Desde julho de 2022, o INSS implementou o uso do Atestmed, um sistema online que dispensa a perícia presencial para a solicitação do auxílio-doença. Essa iniciativa tem ajudado a reduzir significativamente a fila para a concessão desse benefício, além de gerar economia aos cofres públicos.
Queda no Custo Médio de Atraso
Dados do Ministério da Previdência mostram que o custo médio de atraso na concessão do auxílio-doença tem caído drasticamente com o uso do Atestmed. Em julho de 2022, esse custo era de R$ 3.013, enquanto em maio de 2023, baixou para R$ 1.579.
O custo de atraso leva em consideração as parcelas retroativas que precisam ser pagas desde o momento em que o segurado solicitou o benefício até a sua efetiva concessão. No caso das perícias presenciais, o custo médio de atraso tem se mantido em torno de R$ 3.518.
Economia de R$ 3 Bilhões com o Atestmed
No acumulado do ano até maio, a economia gerada pelo uso do Atestmed já chega a R$ 1,1 bilhão, e a expectativa é alcançar R$ 3 bilhões até o final do ano. Em julho de 2022, apenas 30.847 pessoas utilizaram o sistema online, número que saltou para 166.049 em maio deste ano.
Por outro lado, o atendimento presencial para solicitação do auxílio-doença recuou de 124.394 para 91.312 no mesmo período, refletindo a migração para o sistema digital e a consequente redução de custos operacionais.
Redução da Fila do INSS: Impacto nos Processos Judiciais
Outra frente de atuação do Ministério da Previdência é a redução da fila de espera no INSS. No início do governo atual, 2,4 milhões de pessoas aguardavam a avaliação para concessão de benefícios, número que atualmente está abaixo de 300 mil.
Essa redução significativa na fila tem impacto direto na quantidade de processos judiciais e precatórios envolvendo o INSS. Quanto mais ágil é o atendimento e a concessão de benefícios, menor é a necessidade de recorrer à Justiça para obter o direito.
O ministro Carlos Lupi acredita que essa redução da fila trará economia substancial em processos judiciais e precatórios, contribuindo para o equilíbrio das contas públicas.
Revisão Periódica de Benefícios Temporários
Uma das principais frentes de atuação do pente-fino será a revisão periódica dos benefícios temporários, como auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e pensão por morte. Essa medida, que deverá começar no segundo semestre de 2023, atende a uma determinação do Tribunal de Contas da União (TCU).
Obrigatoriedade Legal: Revisão a Cada Dois Anos
De acordo com a legislação vigente, os benefícios temporários devem passar por revisão periódica a cada dois anos. Essa avaliação é crucial para verificar se o beneficiário ainda se encontra em condição de incapacidade ou se houve alteração em sua situação que justifique a manutenção ou suspensão do benefício.
O Ministério da Previdência não divulgou previsões de economia com essa revisão periódica, mas ressaltou que todo mês são requeridos de 800 mil a 1 milhão de benefícios novos, dos quais 50% são temporários.
Potencial de Economia Bilionária
No entanto, estimativas internas do INSS apontam que a revisão periódica tem o potencial de gerar uma economia de R$ 3,6 bilhões em apenas seis meses, com base na média de benefícios cortados em trabalhos similares realizados anteriormente.
O presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, ressalta que essas projeções devem ser analisadas com cautela, pois a economia real dependerá da avaliação caso a caso dos beneficiários.
Atualização do CadÚnico: Garantia de Recebimento de Benefícios
Para garantir o recebimento dos benefícios assistenciais, como o BPC, é essencial que os beneficiários mantenham seus dados atualizados no Cadastro Único (CadÚnico). Essa atualização pode ser feita de forma presencial em um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ou através do portal online do CadÚnico.
A manutenção de informações precisas e atualizadas no CadÚnico é fundamental para que o INSS possa realizar a revisão dos benefícios de forma correta e evitar suspensões indevidas. Além disso, é uma obrigação dos beneficiários informar qualquer alteração em sua situação financeira ou familiar.
Ademais, o pente-fino realizado pelo INSS é uma medida necessária para garantir a eficiência e a justiça no sistema previdenciário brasileiro. Ao combater fraudes, erros e inconsistências nos pagamentos de benefícios, o governo busca economizar bilhões de reais e redirecionar esses recursos para áreas prioritárias.
No entanto, é fundamental que essa revisão rigorosa seja conduzida com transparência, respeitando os direitos dos beneficiários e garantindo que nenhuma suspensão ocorra de forma indevida. O equilíbrio entre a necessidade de conter gastos e a proteção dos cidadãos que realmente necessitam dos benefícios é o grande desafio desse processo.
Cabe ao INSS e ao Ministério da Previdência fornecer informações claras e atualizadas sobre o andamento do pente-fino, bem como estabelecer canais de comunicação eficientes para esclarecer dúvidas e receber recursos dos beneficiários.