Para muitos trabalhadores aposentados no Brasil, a realização de um sonho se transformou em uma decepção amarga. Maria Aparecida Leandro Ferreira, uma corretora de seguros de 62 anos, vivenciou essa desilusão de perto. Ao receber sua primeira aposentadoria, ela descobriu que tinha direito a cerca de R$ 3.400 dos antigos fundos do Programa de Integração Social (PIS) e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep). Ansiosa para resgatar esse valor, ela se dirigiu a uma agência da Caixa Econômica Federal em janeiro deste ano, apenas para descobrir que o dinheiro estava preso na conta única do Tesouro Nacional.
Novo Prazo para Sistema Digital Adia Pagamentos do PIS/Pasep: Veja o que Muda
Um adiamento na criação de um sistema digital pelo órgão responsável pela arrecadação de impostos. Segundo o próprio Ministério, uma portaria editada no fim de junho adiou para 28 de outubro o prazo para a conclusão desse sistema, que é crucial para operacionalizar os pagamentos das cotas do PIS/Pasep aos trabalhadores. O prazo anterior estava fixado em 30 de junho deste ano, mas a complexidade envolvida no desenvolvimento do sistema levou a essa extensão.
Breve Histórico do Fundo PIS/Pasep
O Fundo PIS/Pasep tem uma longa trajetória, beneficiando aqueles que trabalharam com carteira assinada entre 1971 e 1988, data de promulgação da Constituição brasileira. Em agosto de 2018, o governo anterior liberou o saque das antigas cotas, permitindo que cerca de 23,8 milhões de brasileiros resgatassem esses valores.
Durante um período de oito meses, os saques puderam ser realizados nas filiais da Caixa Econômica Federal (para o PIS) e do Banco do Brasil (para o Pasep). Na ocasião, havia cerca de R$ 35 bilhões disponíveis para serem resgatados. No ano de 2019, houve uma flexibilização das normas, tornando mais fácil para os beneficiários de indivíduos falecidos que possuíam participações no fundo anterior realizarem saques.
Entenda mais sobre a movimentação do Governo Federal em relação ao Fundo PIS/Pasep
Em abril de 2020, no início da pandemia de COVID-19, o governo editou uma medida provisória que extinguiu o antigo Fundo PIS/Pasep e transferiu os recursos para a conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em nome do trabalhador. Em vez de ir a uma agência bancária, bastava que o titular ou herdeiro solicitasse o dinheiro por meio do aplicativo FGTS, que transferia o saldo para qualquer conta bancária indicada pelo beneficiário.
Entretanto, em agosto de 2021, os fundos restantes foram realocados do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço para a conta única do Governo Federal. Essa movimentação teve como objetivo reforçar o caixa do governo federal, ajudando a conter o aumento do déficit primário, que encerrou 2023 em R$ 230,54 bilhões, devido ao pagamento de precatórios adiados pelo governo anterior.
Documentação Necessária para o Resgate das cotas do PIS/PASEP
Para solicitar o resgate das cotas do PIS/Pasep, os trabalhadores precisam apresentar documentos específicos. Se o pedido de saque for feito pelo titular, é suficiente apresentar um documento de identificação oficial. No caso de herdeiros, dependentes e sucessores, além do documento de identificação, é necessário apresentar a certidão PIS/Pasep/FGTS ou carta de concessão – pensão por morte previdenciária e sua relação de beneficiários, emitida pela Previdência Social.
Os sucessores também podem apresentar, em vez da carta de concessão, uma declaração de dependentes habilitados à pensão emitida pelo órgão pagador do benefício, uma autorização judicial ou um documento oficial assinado por todos os herdeiros e beneficiários, desde que sejam capazes e estejam de acordo.
Impacto Financeiro Significativo com o adiamento do saque
Segundo o Conselho Curador do FGTS, cada cotista tem, em média, direito a cerca de R$ 2.400. Esse valor pode representar uma quantia significativa para muitos trabalhadores e aposentados, especialmente diante dos desafios econômicos enfrentados pelo país.
Embora tenham sido realizadas campanhas na mídia para conscientizar os beneficiários, quando o dinheiro foi transferido ao Tesouro, em agosto do ano passado, cerca de 10,5 milhões de trabalhadores e aposentados ainda não haviam sacado aproximadamente R$ 26,3 bilhões.
Transparência e Comunicação Eficaz no processo do saque do PIS/Pasep
O caso de Maria Aparecida evidencia a necessidade de uma comunicação mais eficaz por parte das autoridades responsáveis. Segundo a aposentada, ela só obteve esclarecimentos sobre a situação real após ser contatada pela reportagem da Agência Brasil.
É fundamental que o Ministério da Fazenda, a Caixa Econômica Federal e outras instituições envolvidas forneçam informações claras e atualizadas aos beneficiários, evitando frustrações e incertezas desnecessárias.
Desafios para Resgatar os Valores do Pis/Pasep
Apesar da transferência ao Tesouro Nacional, os trabalhadores ainda têm direito a resgatar esses recursos em até cinco anos. Em caso de morte do beneficiário, os dependentes e herdeiros também têm direito aos valores. No entanto, a liberação dos saques depende da conclusão do sistema informático mencionado anteriormente.
Atrasos no Fundo PIS/Pasep Destacam Necessidade de melhorias nos processos
O caso do atraso nos saques do Fundo PIS/Pasep serve como um lembrete valioso da importância de sistemas tecnológicos eficientes e de uma comunicação clara e transparente por parte das autoridades governamentais. Embora os desafios enfrentados tenham causado frustrações para muitos trabalhadores e aposentados, é essencial aprender com essa experiência e implementar melhorias para evitar situações semelhantes no futuro.
À medida que o prazo de 28 de outubro se aproxima, é crucial que o Ministério da Fazenda e a Caixa Econômica Federal estejam preparados para atender às demandas dos beneficiários de forma ágil e transparente, restaurando a confiança e garantindo que os recursos tão esperados cheguem às mãos de seus legítimos proprietários.