As regras para compras internacionais feitas por pessoas físicas sofreram alterações significativas recentemente. A partir de 1º de agosto de 2024, uma nova legislação entrou em vigor, impactando diretamente as encomendas com valor de até US$ 50 (aproximadamente R$ 282). Essas mudanças visam regulamentar o comércio eletrônico transfronterizo e equilibrar o campo de atuação entre varejistas nacionais e internacionais.
Entendendo as Novas Taxas
Antes de nos aprofundarmos nos detalhes, é importante compreender os dois principais impostos envolvidos nessas transações: o Imposto de Importação e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Imposto de Importação
O Imposto de Importação é uma taxa federal aplicada a produtos adquiridos no exterior. Anteriormente, as compras de até US$ 50 eram isentas desse tributo, desde que os sites estivessem inscritos no Programa Remessa Conforme. No entanto, com as novas regras, essas encomendas passarão a ser taxadas em 20%.
ICMS
O ICMS, por outro lado, é um imposto estadual que já vinha sendo cobrado desde julho de 2023, com uma alíquota de 17% sobre o valor total da compra, incluindo o produto e o frete.
Como Calcular os Novos Impostos
A nova legislação estabelece que, para compras de até US$ 50, o cálculo dos impostos será realizado da seguinte forma:
- Primeiro, é calculado o ICMS de 17% sobre o valor do produto, somado ao custo do frete.
- Em seguida, o valor do Imposto de Importação de 20% é aplicado sobre o montante resultante da soma do valor do produto, do frete e do ICMS.
Por exemplo, considere uma compra de um produto no valor de R$ 100, com frete de R$ 10. O cálculo seria:
- Valor do produto + frete = R$ 110
- ICMS (17%) sobre R$ 110 = R$ 18,70
- Valor total (produto + frete + ICMS) = R$ 128,70
- Imposto de Importação (20%) sobre R$ 128,70 = R$ 25,74
- Total a pagar = R$ 128,70 + R$ 25,74 = R$ 154,44
Nesse cenário, o valor final da compra, incluindo todos os impostos, seria de R$ 154,44, representando um acréscimo de aproximadamente 54% em relação ao valor original do produto.
Exceções e Isenções
É importante ressaltar que a nova legislação mantém a isenção de impostos para a importação de medicamentos por pessoas físicas. Essa medida visa garantir o acesso a tratamentos essenciais, independentemente de sua origem.
Além disso, as compras acima de US$ 50 continuarão sujeitas às regras tradicionais de tributação, com uma alíquota de 60% de Imposto de Importação, além do ICMS.
Impacto nos Marketplaces Internacionais
Alguns dos principais marketplaces internacionais, como AliExpress, Shopee e Shein, já começaram a aplicar as novas taxas em suas plataformas. Desde o último sábado (27/07), esses sites passaram a cobrar os impostos adicionais nas compras realizadas por consumidores brasileiros.
Origens da Nova Legislação
A chamada “taxa das blusinhas” tem sua origem no Projeto de Lei (PL) 914/2024, proposto pelo deputado Átila Lira (PP-PI). Inicialmente, o texto visava regular o desenvolvimento de tecnologias para a produção de veículos menos poluentes, através do Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover). No entanto, durante o processo legislativo, foi incluída uma emenda que alterou as regras de taxação para encomendas internacionais.
Reações e Críticas
A nova legislação gerou reações mistas entre consumidores e especialistas. Enquanto alguns apoiam a medida como uma forma de proteger a indústria nacional e combater a sonegação fiscal, outros a criticam por onerar demasiadamente as compras internacionais e limitar o acesso a produtos exclusivos ou mais acessíveis.
Impacto no Comércio Eletrônico
Especialistas em comércio eletrônico preveem que as novas taxas possam impactar negativamente o crescimento desse setor no Brasil. Com o encarecimento das compras internacionais, é possível que os consumidores optem por adquirir produtos nacionais, mesmo que tenham menor variedade ou preços mais elevados.
Adaptação dos Consumidores
Diante das mudanças, os consumidores brasileiros terão que se adaptar e reavaliar suas estratégias de compra. Alguns podem optar por concentrar suas aquisições em lojas nacionais, enquanto outros podem buscar alternativas, como a utilização de serviços de remessas internacionais ou o compartilhamento de encomendas com amigos e familiares.
Perspectivas Futuras
Embora as novas regras tenham entrado em vigor recentemente, é provável que haja ajustes e discussões adicionais sobre o tema nos próximos meses. Tanto o governo quanto os varejistas e consumidores buscarão encontrar um equilíbrio entre a proteção da indústria nacional e a manutenção de um ambiente competitivo e justo para o comércio eletrônico internacional.
Ademais, à medida que as novas taxas forem implementadas e seus impactos se tornarem mais claros, é fundamental que os consumidores e empresas acompanhem de perto as atualizações e orientações das autoridades competentes. Essa é uma área em constante evolução, e a adaptação às mudanças será fundamental para aproveitar ao máximo as oportunidades do comércio eletrônico global.