O sistema de pagamentos instantâneos desenvolvido pelo Banco Central (BC), está rapidamente ganhando terreno no Brasil. Com sua adoção em constante crescimento, especialistas preveem que essa nova forma de transferência eletrônica de fundos (PIX) pode eventualmente ocupar parte do espaço atualmente dominado pelos cartões de crédito.
A Popularidade do Pix no Contexto dos Pagamentos no Brasil
De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo BC, o Pix movimentou impressionantes R$ 2,2 trilhões em junho deste ano, um aumento de 57% em relação ao mesmo período do ano anterior. Embora o regulador não forneça detalhes sobre os tipos de uso, os especialistas apontam que a maior parte das transferências é entre pessoas físicas, com o Pix ainda sendo pouco utilizado para compras no mundo físico.
No entanto, essa tendência pode mudar drasticamente com a introdução da chamada “jornada sem redirecionamento”, uma nova funcionalidade anunciada pelo BC na última sexta-feira. Essa ferramenta, que utiliza o Open Finance, permitirá que os pagamentos com Pix sejam feitos sem a necessidade de entrar nos aplicativos de bancos e fintechs ou digitar senhas, facilitando a execução de forma mais simples e prática.
O Potencial do Pix NFC
Um dos principais pontos de entrada para o Pix no mundo físico pode ser o uso dos celulares para pagar por aproximação, uma modalidade que já é amplamente utilizada com cartões de crédito e débito. Segundo dados da Abecs, um quarto das transações por aproximação são realizadas utilizando aparelhos celulares.
Ricardo Pandur, gerente sênior de Estratégia de Negócios em Serviços Financeiros da Accenture, acredita que é nesse segmento que o Pix NFC (Near Field Communication) pode entrar e começar a participar de forma mais ativa. “Provavelmente é aí que o Pix NFC entra e que começa a participar de uma forma mais ativa”, afirma Pandur.
O Impacto nos Cartões de Crédito
Embora um efeito imediato sobre os cartões de crédito não seja esperado, especialistas acreditam que o Pix pode eventualmente tomar parte do espaço atualmente ocupado por esses instrumentos de pagamento, especialmente no caso dos cartões sem anuidade.
Qual a Barreira do Limite de Crédito atualmente?
Atualmente, um dos principais fatores que impedem o Pix de ganhar mais espaço nas compras no mundo físico é a falta de um limite de crédito associado a ele. Boanerges Ramos Freire, consultor e presidente da Boanerges & Cia, explica: “Essa é uma função pensada para o Pix no futuro. Quem está oferecendo tem soluções próprias.”
No entanto, os bancos e fintechs já começaram a oferecer produtos que combinam o Pix com linhas de crédito pré-aprovadas, como limites de cartão de crédito ou cheque especial. Quando o cliente parcela um Pix ou transfere sem ter saldo em conta, o valor é debitado na fatura do cartão ou no limite do cheque especial.
A Portabilidade do Limite de Crédito
Essa convergência entre produtos leva a uma conclusão interessante: os bancos podem se beneficiar do Pix ao conceder crédito através dele, e os cartões sem anuidade, que não oferecem benefícios como programas de pontos, podem ser as vítimas das novidades no pagamento instantâneo.
Pandur, da Accenture, explica: “Ouvimos em algumas discussões que o limite não é do cartão e, sim, do cliente. Com as novas tecnologias, esse limite é portável.” Isso significa que os clientes poderão usar seu limite de crédito para fazer pagamentos tanto com cartões quanto com o Pix, tornando os cartões sem anuidade menos atrativos.
O Impacto nas Empresas de Cartões de Crédito
Além do impacto nos cartões de crédito em si, o avanço do Pix também pode afetar outros agentes da indústria de cartões, como as credenciadoras e as bandeiras. Essas empresas terão de aumentar a eficiência de suas operações e buscar a liquidação instantânea dos pagamentos para se manterem competitivas.
Atualmente, os comerciantes recebem o dinheiro pago via Pix na hora, mas precisam esperar até 28 dias para que os pagamentos com cartão de crédito caiam em suas contas. Para ter acesso imediato a esses fundos, eles precisam descontar os recebíveis, o que tem custos adicionais. É por isso que muitos estabelecimentos comerciais oferecem descontos para quem paga com Pix.
O Impacto nos Cartões de Débito
Enquanto o crédito cresceu 14,4% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Abecs, os cartões de débito tiveram uma contração de 0,4%. Esse declínio pode ser atribuído, em parte, ao crescimento do Pix como alternativa para transferências e pagamentos instantâneos.
Será que o Pix e os cartões de crédito podem se complementar?
À medida que o Pix continua a ganhar popularidade e novas funcionalidades são introduzidas, é provável que ele ocupe parte do espaço atualmente dominado pelos cartões de crédito, especialmente no segmento de cartões sem anuidade. No entanto, é importante lembrar que o Pix e os cartões de crédito podem coexistir e se complementar, oferecendo uma variedade maior de alternativas para efetuar o pagamento.
As instituições financeiras e as empresas de cartões de crédito terão de se adaptar a essa nova realidade, buscando maneiras de integrar o Pix em suas operações e oferecer produtos e serviços que combinem as vantagens dos cartões de crédito com a conveniência do pagamento instantâneo.