O Governo Federal, sob a liderança do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está se preparando para enviar ao Congresso Nacional, após as eleições de outubro, um projeto de lei que visa o fim do saque-aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). De acordo com Luiz Marinho, Ministro do Trabalho e Emprego, essa proposta já recebeu a aprovação do próprio Lula.
Motivos para o fim do saque-aniversário do FGTS
Dados oficiais revelam que mais de nove milhões de trabalhadores que optaram por retirar parte do saldo do FGTS no mês de seu aniversário não conseguiram receber o valor total do fundo durante os mais de quatro anos de existência dessa modalidade de saque. Essa regra impediu o resgate de aproximadamente R$ 5 bilhões.
Em substituição ao saque-aniversário, o governo pretende propor um formato que concederá aos trabalhadores do setor privado maior acesso ao crédito consignado, ou seja, quando há descontos diretos na folha de pagamento. Segundo Marinho, o próprio Lula tem cobrado a implementação dessa nova modalidade de crédito, visando beneficiar pessoas que atualmente não têm acesso a esse tipo de empréstimo.
Empregados domésticos poderão contratar crédito consignado
Uma das principais inovações previstas no projeto de lei é a possibilidade de empregados domésticos contratarem crédito consignado, algo atualmente não permitido. Essa proposta faz parte de uma série de medidas incluídas no projeto com o objetivo de convencer os parlamentares a aprovar o fim do saque-aniversário do FGTS.
O novo formato do crédito consignado prevê a criação de uma plataforma que reunirá todos os bancos que oferecem essa modalidade de empréstimo, bem como os trabalhadores interessados. Atualmente, cada empresa precisa firmar convênios separadamente com os bancos, o que dificulta a situação para pequenas e médias empresas.
Outra novidade é que o novo crédito consignado permitirá que o trabalhador use seu saldo no FGTS como garantia em caso de demissão, mas apenas nessas circunstâncias específicas.
Resistência parlamentar e preocupações sobre juros
Desde o início do governo Lula, Marinho tem buscado apoio para aprovar o fim do saque-aniversário do FGTS. Com a avaliação da Casa Civil, a proposta agora tem respaldo político para ser apresentada no Congresso. No entanto, o ministro reconhece que ainda há resistência, especialmente entre os parlamentares.
Marinho afirma que já discutiu o assunto com várias lideranças, inclusive com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e planeja retomar as conversas com a direção das casas legislativas e líderes de todos os partidos para apresentar os problemas existentes e a solução proposta pelo governo.
Uma das principais preocupações dos parlamentares é a possibilidade de os juros do crédito consignado serem mais altos do que os praticados atualmente pelos empréstimos convencionais com bancos que antecipam o saque-aniversário do FGTS.
O que é o saque-aniversário do FGTS?
Desde 2020, os trabalhadores têm a opção de sacar anualmente, no mês de seu aniversário, parte do saldo das contas ativas e inativas do FGTS. No entanto, essa modalidade de saque retira o direito do trabalhador de receber o valor total acumulado no fundo em caso de demissão sem justa causa.
Portanto, os profissionais desligados da empresa podem retirar apenas o valor da multa rescisória paga pelo empregador, equivalente a 40% do saldo do Fundo de Garantia.
Para auxiliar os trabalhadores a calcular o valor que poderão retirar de acordo com o saldo existente em sua conta do FGTS, O GLOBO disponibiliza uma ferramenta online.
Impacto do saque-aniversário nas contas do FGTS
Desde sua implementação em 2020, a modalidade de saque-aniversário do FGTS tem gerado impactos significativos nas contas do fundo. Dados divulgados pelo governo revelam que, até o final de 2022, mais de 16 milhões de trabalhadores aderiram a essa opção, retirando um total de R$ 42,5 bilhões de suas contas.
Essa quantia representa uma parcela considerável dos recursos do FGTS, que é um fundo de natureza privada destinado a proteger os trabalhadores em caso de demissão sem justa causa ou em outras situações específicas, como aposentadoria, aquisição da casa própria ou doenças graves.
Críticas ao saque-aniversário
Embora a modalidade de saque-aniversário tenha sido criada com o objetivo de permitir que os trabalhadores tenham acesso a parte de seus recursos no FGTS de forma mais flexível, ela tem enfrentado críticas de especialistas e entidades representativas dos trabalhadores.
Uma das principais preocupações é que o saque-aniversário possa comprometer a função original do FGTS, que é garantir uma reserva financeira para os trabalhadores em situações de vulnerabilidade, como demissão ou aposentadoria.
Além disso, há questionamentos sobre a eficácia dessa modalidade em estimular o consumo e a economia, uma vez que os valores sacados tendem a ser relativamente baixos e podem ser rapidamente consumidos, sem gerar um impacto duradouro no poder de compra dos trabalhadores.
Propostas alternativas ao saque-aniversário
Diante das críticas e dos impactos negativos observados, o governo Lula está buscando alternativas mais adequadas para atender às necessidades dos trabalhadores sem comprometer a integridade do FGTS.
Uma das propostas em discussão é a ampliação do acesso ao crédito consignado, como mencionado anteriormente. Essa modalidade de empréstimo, descontada diretamente na folha de pagamento, é considerada mais segura e acessível para os trabalhadores, uma vez que os juros tendem a ser mais baixos e o risco de inadimplência é menor.
Outra possibilidade é a criação de um programa de microcrédito específico para os trabalhadores, com taxas de juros subsidiadas e condições mais flexíveis de pagamento. Essa alternativa poderia ser particularmente benéfica para os trabalhadores informais ou de baixa renda, que geralmente enfrentam maiores dificuldades para acessar crédito.
Além disso, o governo também estuda a possibilidade de permitir que os trabalhadores utilizem parte de seu saldo no FGTS como garantia para obter empréstimos em condições mais vantajosas, sem comprometer a totalidade do fundo.
A proposta do fim do saque-aniversário do FGTS e implementar novas modalidades de crédito ainda enfrenta desafios significativos. Além da resistência parlamentar mencionada anteriormente, há também a necessidade de garantir a segurança e a sustentabilidade das novas medidas propostas.
O governo terá que trabalhar em estreita colaboração com instituições financeiras, entidades representativas dos trabalhadores e especialistas em políticas públicas para desenvolver um plano, que atenda às necessidades dos trabalhadores sem comprometer a integridade do FGTS ou gerar riscos excessivos para o sistema financeiro.
Outro desafio será a comunicação eficaz com a população, garantindo que as novas medidas sejam compreendidas e aceitas pelos trabalhadores. Será fundamental esclarecer os benefícios e as implicações das novas modalidades de crédito, bem como as razões por trás do encerramento do saque-aniversário.