A proposta do governo federal de isentar do Imposto de Renda (IR) os trabalhadores com salários de até R$ 5 mil mensais é um dos primeiros passos de uma ampla reforma na tributação da renda no Brasil. O projeto ainda precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional, mas se for implementado conforme planejado, beneficiará 36 milhões de contribuintes. A medida também pode gerar dúvidas sobre como ela impactará os salários, as alíquotas do IR para rendas mais altas e o funcionamento atual do sistema tributário. A seguir, veja em detalhes como essa proposta pode mudar a vida dos trabalhadores e o que está por trás dela.
O trabalhador vai ganhar mais?
Aumento do salário líquido: Para os trabalhadores que ganham até R$ 5 mil por mês, a proposta de isenção do Imposto de Renda implica que o desconto mensal sobre o salário será extinto. Isso resultará diretamente em um aumento no salário líquido, ou seja, no valor efetivamente recebido pelo trabalhador após os descontos. O valor que antes era descontado para o pagamento do IR ficará disponível para o trabalhador, aumentando o montante que ele leva para casa no final do mês.
Paula Borges, advogada trabalhista da Ferraz dos Passos Advocacia e Consultoria, esclarece que, com a isenção, o funcionário terá um salário líquido maior, uma vez que o imposto de renda será suprimido. No entanto, ela ressalta que tecnicamente essa mudança não pode ser considerada um aumento salarial, já que o salário base não será alterado. O que ocorre é uma diminuição dos descontos, fazendo com que o trabalhador receba um valor maior.
Implicações práticas para os empregadores: O impacto da isenção não será apenas sobre os trabalhadores, mas também sobre os empregadores. As empresas terão que ajustar a folha de pagamento para garantir que a isenção seja aplicada corretamente, sem criar complicações adicionais ou cobranças indevidas. O sistema de folha de pagamento precisará ser adaptado para garantir que não haja erros no processamento dos salários.
O que acontece com quem recebe mais de R$ 5 mil?
Falta de detalhes sobre as alíquotas acima de R$ 5 mil: Embora a proposta de isenção seja clara para os trabalhadores com salários até R$ 5 mil, ainda existem muitas incertezas sobre como o imposto será aplicado para aqueles que ganham mais. O governo não divulgou oficialmente uma tabela detalhada de alíquotas progressivas para as faixas acima de R$ 5 mil, o que gerou questionamentos sobre como será a tributação para essas rendas.
Atualmente, a tabela do Imposto de Renda no Brasil é progressiva, com alíquotas que aumentam à medida que a renda do contribuinte sobe. Para quem recebe acima de R$ 5 mil, a alíquota pode chegar a 27,5%, que é o teto atual. No entanto, a proposta do governo de isentar até R$ 5 mil pode ser acompanhada de ajustes para evitar que a diferença tributária entre essas faixas seja muito grande. Segundo o advogado tributarista Morvan Junior, do escritório Meirelles Costa Advogados, é possível que haja uma redução nas alíquotas para as faixas acima de R$ 5 mil, de modo a suavizar a transição entre os rendimentos isentos e os mais elevados.
Faixa de transição: O governo informou que a faixa de transição seria de R$ 5 mil a R$ 6.980, mas não especificou como essa transição será feita. É possível que os trabalhadores dessa faixa recebam um desconto menor do que os 27,5% atuais, mas ainda sim, sem isenção total. A medida busca garantir que não haja um impacto negativo para aqueles que ficam pouco acima da faixa de isenção.
Como funciona a tributação atual do imposto de renda?
Tabela progressiva do Imposto de Renda: Atualmente, a tabela do IR estabelece que quem ganha até R$ 2.259,20 por mês está isento de pagar o imposto. Acima desse valor, o contribuinte começa a pagar o IR com alíquotas progressivas que variam de 7,5% a 27,5%, dependendo da faixa salarial. Para rendas mais altas, a dedução é feita de acordo com o valor que excede o limite da faixa de isenção.
A tabela do Imposto de Renda de 2024 é a seguinte:
Faixa de Renda | Base de Cálculo | Alíquota | Parcela a Deduzir |
---|---|---|---|
Até R$ 2.259,20 | Isento | 0% | 0 |
De R$ 2.259,21 até R$ 2.828,65 | 7,5% | R$ 169,44 | |
De R$ 2.826,66 até R$ 3.751,05 | 15% | R$ 381,44 | |
De R$ 3.751,06 até R$ 4.664,68 | 22,5% | R$ 662,77 | |
Acima de R$ 4.664,68 | 27,5% | R$ 896,00 |
Exemplo de um trabalhador com salário de R$ 5 mil: Para entender como o Imposto de Renda é aplicado atualmente, considere um trabalhador que recebe R$ 5 mil por mês. Com a subtração de R$ 564,80 (para assegurar que os ganhos de até dois salários mínimos não sejam tributados), sua base de cálculo é de R$ 4.435,20. Essa base será tributada de acordo com a tabela progressiva, o que significa que o trabalhador pagará uma combinação de 7,5%, 15% e 22,5% sobre as diferentes faixas do valor.
Por exemplo:
- Os primeiros R$ 2.824 são isentos.
- Os R$ 567,44 seguintes são tributados a 7,5%.
- Os próximos R$ 924,39 são tributados a 15%.
- Os últimos R$ 119,37 são tributados a 22,5%.
O valor total de imposto pago é a soma desses cálculos, o que resulta em uma dedução considerável no salário do trabalhador.